Capítulo 1 – Episódio 6: Ecos na Escuridão
O breu era absoluto.
A lanterna na mão de Ricardo havia se apagado como se engolida pela própria escuridão, e os sussurros que antes pareciam distantes agora preenchiam cada centímetro ao seu redor. Mas não eram apenas sussurros. Eles tinham... presença. Vibrações que atravessavam os ossos. Uma pressão invisível que fazia o peito pesar, o ar rarear.
Ricardo apertou os olhos, esperando que o silêncio o guiasse, mas havia algo diferente agora. Os ecos que preenchiam a sala não vinham de algo externo — vinham de dentro dele. Era como se as paredes do prédio fossem apenas uma extensão de sua própria mente, e os lamentos, memórias distorcidas de uma vida que ele mal conseguia lembrar.
Ele estendeu a mão, tateando no escuro. A ponta dos dedos roçou uma superfície fria, metálica. O painel de controle. Ele estava de volta àquela sala, onde a imagem no monitor havia pronunciado seu nome com uma clareza impossível. O vídeo não deveria existir. Quem o gravou? Quando? Como sabiam seu nome?
Ricardo se ajoelhou ao lado do painel e deslizou os dedos por ele. Estava coberto por poeira e tempo, mas os botões ainda estavam lá, esperando serem pressionados como se aguardassem aquele momento havia décadas. Ele apertou outro.
Um zumbido fraco soou. A tela piscou. Fragmentos de uma nova gravação começaram a se formar. Silhuetas de homens com trajes de contenção, arrastando corpos envoltos em plástico preto. O áudio era intermitente, mas uma palavra repetia-se várias vezes, quase como um mantra:
“Fase Três. Fase Três. Fase Três.”
Um corte abrupto. Outro vídeo.
Um laboratório. Um corpo sobre a mesa. Ricardo. Era ele. Mas diferente. Pálido, imóvel. Fios ligados ao peito, sondas no crânio. Os cientistas discutiam ao fundo, palavras técnicas e desesperadas, como se estivessem à beira de algo que não compreendiam completamente. Um deles olhou diretamente para a câmera e disse:
— “Se você está vendo isso, então... ele acordou.”
A gravação apagou.
Ricardo cambaleou para trás, encostando-se na parede úmida. Seu coração batia como tambores em um funeral antigo. A sensação de ser observado voltou com força total. Ele se levantou, os olhos ajustando-se ao escuro.
No fundo do corredor, uma porta que ele não havia notado antes estava entreaberta. E por ela escapava... um feixe fraco de luz azulada.
Ele caminhou em direção a ela, cada passo um esforço contra o medo crescente. O corredor parecia se estreitar, as paredes mais próximas, como se o prédio respirasse junto com ele. O som de seus passos era abafado, como se o concreto absorvesse tudo. Mas havia outro som agora. Algo além dos sussurros.
Passos.
Lentos. Pesados. Distantes.
Ele parou.
Os passos também.
Ricardo prendeu a respiração e deu mais dois passos rápidos.
Silêncio.
Mais um.
Os passos voltaram.
Mas não eram seus.
Ele girou rapidamente, mas o corredor estava vazio. Nenhuma sombra em movimento, nenhuma criatura espreitando. E, ainda assim, ele sabia que
não estava mais sozinho.
A porta à sua frente rangeu levemente, abrindo-se mais. A luz azul se intensificou. Ele passou por ela, os olhos se adaptando lentamente. A sala era pequena, forrada por espelhos quebrados e telas de monitores antigos. No centro, um cilindro de vidro — vazio — conectado a cabos que desapareciam sob o chão.
Um reflexo no espelho chamou sua atenção. Por um instante, não era ele que olhava de volta. Era alguém — ou algo — com seu rosto, mas com olhos completamente negros. Quando se virou, não havia nada ali. Apenas o seu reflexo normal. Suado, ofegante, confuso.
Mas o frio persistia.
Algo dentro daquele prédio estava vivo.
E, pior, estava acordando.
Capítulo 1 – Episódio 6 Ecos na Escuridão