segunda-feira, 28 de abril de 2025

Capítulo 1 - Episódio 2: Despertar Sombrio

 

Capítulo 1 - Episódio 2: Despertar Sombrio

O vento cortante carregava consigo o cheiro acre de sal e morte. A brisa marítima, outrora refrescante, agora parecia carregar os resquícios de um mundo que já não existia. Ricardo Veríssimo sentiu o arrepio percorrer sua espinha ao dar o primeiro passo entre os corpos espalhados pela praia. Seus sentidos estavam aguçados, captando cada detalhe macabro ao redor.

A areia fofa dificultava seus movimentos, e seus pés afundavam ligeiramente a cada passo. Ele não sabia dizer quanto tempo havia passado desacordado, mas algo dentro dele gritava que cada segundo era precioso. A sua volta, corpos mutilados boiavam na água ou estavam dispostos como marionetes quebradas pelo chão. Alguns pareciam inchados pela longa exposição à água salgada, enquanto outros estavam cobertos de lacerações profundas, como se tivessem sido despedaçados por garras afiadas.

Ele se abaixou ao lado do Dr. Caio Moretti, olhando fixamente para a expressão congelada de horror no rosto pálido do cientista. A placa de identificação jazia parcialmente submersa na areia, com seu nome quase ilegível devido ao sangue seco que a cobria. Ricardo estendeu a mão hesitante, pegando o crachá e sentindo o metal frio contra seus dedos trêmulos.

As memórias do laboratório vieram em fragmentos desconexos. As luzes ofuscantes. Os rostos mascarados dos cientistas. O aperto dos braços contra as alças da maca. Os gritos ecoando pelos corredores estéreis. E, então, a dor lancinante das injeções, queimando suas veias como lava fervente. O experimento.

Ele não deveria estar ali.

Seu coração acelerou quando um som cortou o silêncio - um arrastar baixo e rítmico, acompanhado de um rosnado gutural. Ele se virou lentamente, seus instintos alertas, sentindo os músculos tensionarem-se prontos para reagir. A poucos metros de distância, uma figura emergia das sombras projetadas pelos destroços de um barco virado.

A criatura era humanoide, mas algo nela estava terrivelmente errado. A pele pálida e manchada parecia aderir ao esqueleto de forma grotesca, como se tivesse sido esticada além de seus limites naturais. Os olhos estavam completamente esbranquiçados, vazios, mas famintos. Sua boca tremia levemente, exalando um ruído entrecortado, como se estivesse tentando falar, mas só conseguia emitir grunhidos desumanos.

Ricardo recuou um passo, sentindo seu próprio peito se expandir em respirações aceleradas. A criatura inclinou a cabeça para o lado, como se estivesse estudando sua presa, e então se moveu. Não foi um ataque descontrolado. Foi calculado. Um movimento rápido e preciso, um predador testando os reflexos de sua vítima.

Ricardo instintivamente se esquivou, sentindo o vento passar ao lado de seu rosto quando a criatura tentou agarrá-lo. Seu corpo reagiu antes que ele pudesse racionalizar - seus sentidos estavam aguçados, sua força aumentada. Quando a criatura atacou novamente, ele contra-atacou. Seu punho encontrou o peito da aberração com uma força que o surpreendeu. O corpo magro da criatura foi arremessado para trás, chocando-se contra os destroços com um estalo surdo.

Mas não ficou no chão.

Ela se levantou.

Ricardo sentiu uma onda de frio percorrer seu corpo. O impacto teria sido suficiente para quebrar ossos humanos comuns, mas aquela coisa não era comum. Com um rosnado rouco, a criatura se lançou sobre ele mais uma vez.

Dessa vez, Ricardo não se esquivou. Algo dentro dele despertou - uma raiva primitiva, uma fúria desconhecida. Suas mãos se fecharam ao redor da garganta do monstro, e ele sentiu a pele fria e repulsiva sob seus dedos. Com um único movimento, torceu o pescoço da criatura com um estalo seco. O corpo pendeu, sem vida.

Ofegante, ele largou o corpo inerte e deu um passo para trás. Seus punhos ainda tremiam, mas não era medo que os agitava. Era a energia bruta, a estranha força que pulsava dentro dele, cada vez mais forte.

Olhou para suas próprias mãos. O que haviam feito com ele?

O silêncio foi rompido por novos sons. Vários. Passos arrastados, grunhidos baixos ecoando na escuridão. Ricardo ergueu os olhos e viu sombras se movendo entre os destroços, vindas de todas as direções.

Não estava sozinho.

E a verdadeira luta pela sobrevivência estava apenas começando.

Despertar Sombrio_ O Início da Aventura




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