O cheiro o atingiu primeiro. Um misto de sal, podridão e ferrugem. Abriu os olhos, mas tudo permaneceu embaçado, uma neblina confusa que dificultava distinguir onde estava. Seu corpo estava frio, rígido, e por um momento, não soube se estava vivo ou morto. Tentou se mexer, mas seus membros pareciam pesados demais. Aos poucos, a visão se ajustou, revelando sombras distorcidas e um céu escuro, tingido de tons púrpura e vermelho-sangue. O som distante das ondas quebrando contra as rochas trouxe uma realidade desconcertante: ele estava deitado em uma praia desolada.
Engoliu seco, sentindo um gosto metálico na boca. Seu uniforme hospitalar estava rasgado, sujo de sangue seco e areia. Um calafrio percorreu sua espinha. Como tinha ido parar ali? Tudo parecia um borrão em sua mente. Fechou os olhos e forçou-se a lembrar… O laboratório. Os gritos. A dor lancinante das injeções. As vozes distantes dos cientistas. A queda.
Com um gemido de esforço, conseguiu se sentar. Sua cabeça latejava, e cada articulação doía, mas o desconforto foi rapidamente substituído por uma percepção inquietante: ele não se sentia fraco. Muito pelo contrário. Havia uma energia crua pulsando dentro dele, como se tivesse sido reiniciado de alguma forma.
Foi quando percebeu os corpos ao redor.
A praia não estava vazia. Corpos humanos jaziam espalhados pela areia úmida, alguns inchados e pálidos, outros irreconhecíveis, dilacerados por algo que ele não queria imaginar. O cheiro de morte era sufocante. Um deles, a poucos metros de distância, usava um jaleco rasgado, com uma placa de identificação manchada de sangue seco. Ricardo rastejou até ele, ignorando a vertigem. O nome quase apagado ainda era visível: Dr. Caio Moretti.
Ele conhecia aquele nome. Era um dos cientistas do laboratório.
Seu estômago se revirou. Aquilo não era um acidente. Algo deu terrivelmente errado.
Levantando-se com dificuldade, olhou ao redor, sentindo uma urgência crescente. O céu ameaçador, o silêncio sufocante e o cheiro de decomposição davam àquele lugar uma atmosfera de pesadelo. Não podia ficar ali. Precisava encontrar respostas. Precisava entender o que havia acontecido com ele.
Foi então que ouviu o primeiro som. Um rosnado baixo e gutural vindo de trás de uma pilha de destroços. Ricardo sentiu o coração acelerar. Seu instinto gritava para correr, mas algo dentro dele dizia que fugir não era mais uma opção.
Seus olhos focaram na origem do som, e a sombra se moveu.
A verdadeira luta pela sobrevivência estava apenas começando.
Chapter 1 Richard's Awakening
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