Capítulo 1 – Episódio 9
O frio parecia enraizar-se nos ossos de Ricardo enquanto ele avançava pelo corredor. Cada passo ecoava em um silêncio opressor, como se o próprio prédio estivesse retendo a respiração, aguardando... algo.
A lanterna, ainda trêmula em sua mão, varria as paredes rachadas, revelando fragmentos de uma história esquecida: marcas antigas de mãos, fórmulas rabiscadas às pressas, manchas escuras que se alastravam como veias mortas sobre o concreto envelhecido.
No ar, o cheiro metálico se intensificava.
Ele passou por uma fileira de janelas quebradas, cujos vidros estilhaçados brilhavam como dentes sob a luz fraca. Por um instante, achou ter visto algo se mover lá fora, uma sombra fugidia. Mas quando virou a lanterna, só encontrou o vazio.
Os sussurros ainda sussurravam, mas agora mais profundos, mais arrastados.
Não era apenas medo. Era como se o próprio lugar estivesse tentando falar com ele — ou contra ele.
Chegando ao fim do corredor, Ricardo se deparou com uma escada que descia para os níveis inferiores. A porta metálica estava entreaberta, emitindo um rangido lento cada vez que a corrente de ar se infiltrava. Abaixo, apenas trevas densas. Nenhuma luz. Nenhum som, exceto a respiração dele, pesada e irregular.
Ele hesitou.
Todo instinto em seu corpo gritava para não descer. Mas o que quer que estivesse acontecendo ali — o que quer que soubesse seu nome — estava embaixo.
Ele não podia parar agora.
Com a mão firme na lanterna, iniciou a descida.
Cada degrau parecia prolongar-se, como se ele estivesse afundando em algo mais do que o simples concreto. Algo mais profundo. Mais antigo.
Quando finalmente alcançou o último degrau, sentiu o chão mudar sob seus pés. Não era mais cimento, mas um tipo de metal corroído, quente ao toque.
O ambiente aqui era diferente — como entrar em outra dimensão. O ar parecia pulsar, vibrando com uma energia estranha.
À frente, um grande salão se abria, iluminado apenas por luzes de emergência piscando de forma irregular.
No centro da sala, havia algo inesperado:
Uma cápsula metálica, gigante e envolta por cabos grossos, como uma crisálida mecânica. A superfície estava coberta de inscrições incompreensíveis, e dela emanava um zumbido grave, quase hipnótico.
Pendurados nas paredes ao redor da cápsula, estavam corpos.
Não cadáveres quaisquer. Eram formas humanas, suspensas por fios cravados na carne, seus rostos distorcidos em expressões de dor eterna. Seus olhos, abertos, brilhavam em um tom pálido, como se ainda estivessem... vivos. De alguma maneira terrível.
Ricardo sentiu a bile subir à garganta.
Mas antes que pudesse recuar, algo dentro da cápsula se mexeu. Lentamente.
Um baque surdo ecoou pela sala, seguido por outro.
TOC. TOC. TOC.
Ele ergueu a lanterna, iluminando uma pequena abertura que se formava na lateral da cápsula. De dentro dela, escapou uma névoa negra, densa como óleo, espalhando-se pelo chão em movimentos serpenteantes.
E então... ele ouviu.
Uma voz, não em seus ouvidos, mas dentro de sua mente:
"Você finalmente chegou..."
Ricardo deu um passo para trás, a respiração descompassada.
O que quer que estivesse ali... estava esperando por ele.
O som metálico da cápsula se abrindo ecoou na escuridão.
Algo — ou alguém — emergia da névoa.
E Ricardo, por um momento, desejou profundamente nunca ter descido aquelas escadas.
Capítulo 1 – Episódio 9 Mistério e Terror: O Enigma da Cápsula