segunda-feira, 9 de junho de 2025

Capítulo 1 – Episódio 7: Ecos da Origem

 


Capítulo 1 – Episódio 7: Ecos da Origem


O breu que envolvia Ricardo era quase sólido. Ele não enxergava nada além da lembrança do brilho pálido da tela que, segundos antes, havia pronunciado seu nome como se invocasse algo esquecido. O ar parecia mais denso, e sua respiração produzia pequenas nuvens visíveis na penumbra gelada. Os sussurros haviam retornado com força total, mas agora estavam diferentes.

Mais articulados. Mais próximos.

Ele tateou com cuidado, os dedos deslizando pelas paredes úmidas, buscando algo — qualquer coisa — que pudesse guiá-lo. A lanterna em sua mão falhava a cada dois segundos, como um coração prestes a parar. A cada flash, o ambiente ao seu redor revelava fragmentos grotescos da decadência: inscrições quase apagadas nas paredes, símbolos desenhados com algo que parecia carvão — ou sangue seco. Havia desenhos, esquemas. Fórmulas. Códigos.

E havia nomes. Alguns riscados. Outros com marcas circulares em volta.

Ricardo Veríssimo era um deles.

Seu corpo congelou por um momento. Era ele. Aquela parede o conhecia. O prédio o conhecia.

Ele não era um intruso ali.

Ele fazia parte daquilo.

Uma batida seca ecoou do andar superior. Depois outra. Pesada. Irregular. Como passos. Ricardo ergueu os olhos, apesar da escuridão completa, sentindo um frio súbito na nuca. Não sabia se era um ser humano. Não sabia se queria saber.

Com a lanterna voltando a funcionar por um instante, ele seguiu adiante. O corredor se alargava e dava lugar a uma escada parcialmente destruída. O corrimão estava retorcido, como se tivesse sido esmagado por força bruta. No topo da escada, havia uma porta semiaberta de onde vazava uma luz pulsante, como se o lugar respirasse.

E ele sentiu o cheiro.


Não era mais apenas mofo ou sangue antigo.

Agora havia enxofre. Metal fundido. Algo vivo e pútrido misturado com tecnologia.

Quando subiu, cada degrau rangia, não como madeira, mas como ossos sendo esmagados sob o peso do tempo. Lá em cima, o som dos sussurros se transformava. Vozes mais definidas. Palavras que ele mal conseguia compreender:

"Não era para ele acordar..."
"Está cedo demais..."
"Ele é instável..."

Ricardo encostou a mão na porta. Sua palma tremia. Ele sabia que algo estava prestes a mudar.

E então empurrou.

Ecos da Origem: Revelações Sombrias







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