Mensagem sobre “Luz de Frigorífico” – Faixa 4 do álbum “Luz Baixa”
Há uma luz que não aquece, que não guia. Uma luz pálida, artificial, que invade as madrugadas das cozinhas esquecidas e ilumina o vazio com precisão quase clínica. “Luz de Frigorífico” não fala apenas da claridade fria que sai de um eletrodoméstico; fala do desencanto rotineiro, da repetição exaustiva dos dias, da vida enclausurada em horários automáticos. É sobre o levantar sem entusiasmo, o comer sozinho à frente do televisor desligado, o adormecer por hábito — não por descanso.
Diogo “Zero” Martins usa essa metáfora doméstica para nos colocar frente a frente com um sentimento partilhado por muitos, mas raramente confessado: a anestesia emocional. A música pulsa lentamente, com batidas espaçadas e uma voz quase sussurrada, como quem acorda às três da manhã e se arrasta pela casa em silêncio. É um retrato fiel da apatia urbana, das almas que funcionam no piloto automático, com o coração na reserva.
Esta faixa não grita. Ela murmura, observa e espera. Porque há beleza também nesse torpor. Porque mesmo no frio da rotina, o gesto de abrir um frigorífico às escuras carrega humanidade. Um gesto banal que, em “Luz de Frigorífico”, se transforma em símbolo da nossa fragilidade, do nosso cansaço, e — paradoxalmente — da nossa persistência em continuar.
É a canção de quem ainda está aqui, mesmo que sem saber porquê.
Luz de Frigorífico - Diogo Zero Martins











