Mensagem sobre a música 🎵 “Língua dos Perdidos” – do álbum Raízes Queimadas
Há uma língua que nunca foi escrita. Uma linguagem que não aparece em dicionários nem é ensinada nas escolas, mas que se aprende na pele, no olhar, nos gestos curtos e nos silêncios longos. Essa é a Língua dos Perdidos. Ela nasce nos bairros esquecidos, nas vielas onde a polícia entra tarde demais, nas escadas partidas dos prédios sem futuro. É a língua dos que cresceram sem garantias, mas com códigos próprios — onde um aceno pode significar “cuidado” e um olhar firme é mais forte que um grito.
Esta música é um tributo a todos aqueles que falam com os olhos e escutam com o corpo. Que usam a arte do improviso para se proteger, para comunicar, para sobreviver. Gente que não aprendeu com livros, mas com a vida crua e sem filtro. Os perdidos aqui não são fracos — são invisíveis por fora, mas gigantes por dentro.
“Língua dos Perdidos” é sobre a beleza de uma cultura que nasce do caos, que transforma dor em código, abandono em resistência. É a gíria do desalento, o dialeto da coragem, a poesia clandestina dos que foram deixados para trás. Porque enquanto houver um só miúdo a falar com o coração na ponta da língua, esta língua continuará viva — mesmo que o mundo insista em não a ouvir.
Isto não é apenas música. É identidade.
É uma tatuagem verbal gravada no betão dos bairros.
É a prova de que, mesmo sem voz oficial, os esquecidos continuam a dizer tudo.
Língua dos Perdidos - Lourenço Verissimmo


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