Mensagem — “Luz Suja”
“Luz Suja” encerra o álbum como uma lâmina afiada que corta o silêncio, mas não fecha feridas. É o fecho que não é fim — um último clarão que ilumina apenas o suficiente para revelar que a noite continua. Aqui, a luz não é pura nem redentora; é filtrada pelo pó, pela fumaça e pelas memórias que ficaram presas no ar. É a esperança manchada, aquela que sobrevive mesmo quando já não brilha como antes.
A música traz um pulso lento e irregular, como o respirar de uma cidade exausta, onde cada esquina carrega histórias que ninguém conta. Entre camadas de sintetizadores arrastados e batidas que parecem vir de um lugar distante, as palavras surgem como fragmentos — pequenas faíscas no meio de um breu pesado. Não há promessas de salvação, apenas o convite para seguir caminhando, mesmo que a estrada seja estreita e o farol esteja sujo.
“Luz Suja” é sobre aceitar que a vida não vem com filtros perfeitos, e que a beleza, muitas vezes, está no defeito, no arranhão, no reflexo torto. É um retrato de resistência: a cidade dorme, mas nós não. E, enquanto houver um mínimo de claridade — mesmo turva — há espaço para mais um passo, mais um gesto, mais um som.
Se este álbum é uma jornada por lugares e sentimentos onde a luz quase não chega, esta faixa é o lembrete de que, mesmo suja, ela ainda pode ser suficiente para guiar quem não se rendeu. Porque, no fim, não é o brilho que importa — é o fato de ainda podermos ver.
Luz Suja - Diogo Zero Martins


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