Mensagem sobre a música "Território Fantasma"
Vivemos num país feito de contrastes profundos, onde há zonas que brilham com luz artificial e outras que permanecem mergulhadas numa sombra persistente. “Território Fantasma” fala dessas zonas — geografias esquecidas, bairros que não aparecem nos postais, comunidades enterradas nos mapas da indiferença. São pedaços do país onde o Estado não chega, mas onde a vida, contra todas as probabilidades, continua a florescer.
Este território é fantasma porque não é reconhecido oficialmente. Porque não há investimento, não há infraestrutura, não há respostas. Mas é real, e o povo que lá vive também. São famílias que erguem a dignidade em casas improvisadas, que constroem comunidade num ambiente de hostilidade e abandono. São jovens que crescem com o som das sirenes em vez de embalos, com os muros pintados de revolta e sonhos guardados no peito como munição de esperança.
A música não é um lamento apenas. É também uma denúncia. Um grito contra o silêncio. É a lembrança de que o que não é visto não deixa de existir. “Território Fantasma” é um espelho onde o país deve olhar e reconhecer a sua responsabilidade histórica, política e social. Porque enquanto houver um só quarteirão esquecido, uma só rua sem saída onde a injustiça faz morada, a democracia estará incompleta.
Esta faixa não pede piedade. Pede mudança. Grita para ser ouvida nos gabinetes fechados, nas redações distraídas, nas conversas conformadas. É a voz de quem sobrevive por instinto, mas sonha com mais do que apenas sobreviver. É a alma de um povo que não desaparece mesmo quando é apagado dos planos, dos discursos e das estatísticas.
“Território Fantasma” é a prova de que nas sombras também há vida. E que essa vida, por mais invisível que seja aos olhos do poder, merece ser honrada, defendida e celebrada. Porque nenhuma nação é verdadeiramente livre se deixa parte do seu povo viver entre escombros e esquecimento.
Território Fantasma - Lourenço Verissimmo


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