segunda-feira, 5 de maio de 2025

Capítulo 1 - Episódio 3: Sombras na Maré

Sombras na Maré_ A Fuga de Ricardo


Capítulo 1 - Episódio 3: Sombras na Maré

O vento assobiava entre os destroços espalhados pela praia, carregando consigo o cheiro salgado do mar misturado ao fedor pútrido dos cadáveres. Ricardo Veríssimo inspirou fundo, tentando controlar a adrenalina que percorria suas veias como fogo líquido. Seu peito subia e descia em um ritmo acelerado, e seus punhos ainda estavam cerrados. O corpo inerte da criatura jazia a seus pés, sua cabeça torcida em um ângulo grotesco.

Mas ele não teve tempo para pensar.

Sons guturais ecoavam pela praia, reverberando entre as ruínas e os destroços do navio partido ao meio. Sombras se moviam no escuro, seus contornos distorcidos pela névoa que se erguia lentamente do mar.

Não estava sozinho.

Ele podia sentir o peso dos olhares vazios sobre si, mesmo sem vê-los diretamente. O instinto gritava dentro dele – uma urgência primal, uma necessidade de sobreviver. Seus músculos se retesaram enquanto ele girava lentamente sobre os calcanhares, varrendo o ambiente com o olhar.

Então, eles surgiram.

Criaturas de passos arrastados, suas peles deformadas brilhando sob a luz pálida da lua. Alguns tinham feridas abertas que jamais deveriam permitir que continuassem de pé. Outros eram magros, como se a própria carne houvesse sido devorada de dentro para fora. Os olhos esbranquiçados refletiam um vazio inumano. Eles não falavam, não hesitavam. Apenas avançavam.

Ricardo recuou um passo, seus pés afundando levemente na areia fria. Seu coração martelava contra o peito como um tambor de guerra. Ele sabia que não poderia enfrentá-los todos de uma vez. Não ainda.

Sua mente disparou em busca de uma rota de fuga.

A praia estava cercada por destroços e rochas escorregadias. O mar revolto quebrava contra as pedras, tornando impossível qualquer tentativa de nadar para longe dali. Restava apenas uma opção: a floresta.

Ele se virou e correu.

O ar gélido cortava seu rosto enquanto ele avançava entre as árvores retorcidas. O som dos grunhidos e passos pesados atrás dele se intensificava. Os galhos secos se partiam sob seus pés, e sua respiração vinha entrecortada, mas ele não parou. Não podia parar.

Uma raiz exposta surgiu em seu caminho. Ele tentou desviar, mas seu pé enganchar na madeira retorcida. Seu corpo tombou para frente e, por um segundo eterno, tudo pareceu desacelerar.

O impacto contra o solo foi brutal. A dor explodiu em sua costela quando ele rolou pelo chão úmido, folhas e lama grudando em sua pele. Ele se virou rapidamente, seus olhos arregalados ao ver a primeira criatura emergindo da trilha.

Sem tempo para hesitação.

Com um movimento rápido, agarrou uma pedra próxima e arremessou com força. O projétil atingiu a cabeça da criatura, que tropeçou para trás, soltando um rosnado grotesco.

Mas os outros ainda estavam vindo.

Ricardo se ergueu com dificuldade, seus músculos protestando. Ele sabia que precisava continuar, encontrar um abrigo, algum lugar seguro para entender o que estava acontecendo consigo mesmo.

Porque algo dentro dele havia mudado.

A energia pulsava sob sua pele, seu corpo reagia de formas que ele nunca imaginou serem possíveis. A força com que derrubou a primeira criatura, a velocidade com que seus sentidos captavam cada som ao redor… Não era normal.

Não era humano.

Mas se queria sobreviver, teria que descobrir o que havia se tornado.

E rápido.

Shadows on the Tide_Richard's Escape




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