segunda-feira, 26 de maio de 2025

continuação do Capítulo 1 – Episódio 5: A Voz Que Sussurra no Concreto:

 


O Enigma do Espelho Ricardo e o Portal Misterioso




Continuação:

Ricardo ficou imóvel por alguns segundos, os olhos arregalados fixos na tela escura do monitor, que agora refletia apenas o brilho tênue da lanterna apagada em sua mão. O som dos sussurros ecoava em sua mente como se suas sinapses estivessem sendo invadidas por vozes ancestrais, cada uma sussurrando em tons diferentes, como um coral sombrio entoando uma prece esquecida.

Ele deu um passo para trás, tentando silenciar os ruídos em sua cabeça. Sentiu um arrepio percorrer sua espinha e o leve estremecer das paredes ao seu redor, como se o prédio respirasse com ele, sentindo sua presença. A escuridão era total, e mesmo sua visão adaptada à penumbra parecia ineficaz naquele lugar.

De repente, uma luz pálida acendeu ao fundo do corredor, vindo de outra sala. Não piscava, não tremia. Era firme. Uma provocação silenciosa.

Ricardo seguiu, os passos leves como os de um caçador. O corredor parecia mais estreito agora, como se as paredes se fechassem à medida que ele avançava. O ar tornou-se mais pesado, carregado de uma eletricidade invisível que fazia os pelos dos braços se eriçarem. As vozes não cessavam, mas agora sussurravam palavras que ele começava a entender — nomes, datas, lamentos. Um idioma que ele não reconhecia, mas que sua mente, de alguma forma, decifrava aos poucos.

Ao chegar à sala, a luz que a preenchia revelou um espaço diferente dos demais. Tudo estava organizado demais para um local abandonado. Havia pranchetas em uma mesa metálica, mapas colados às paredes com alfinetes enferrujados e um velho rádio em silêncio, ligado, mas inerte. No centro da sala, um grande círculo fora traçado no chão com um material escuro — talvez carvão, ou sangue seco. Havia símbolos espalhados dentro dele, desenhos estranhos, semelhantes a circuitos misturados com runas arcaicas.

Ricardo aproximou-se do círculo, sentindo a pele formigar à medida que se abaixava para observá-lo de perto. Os símbolos pareciam brilhar sutilmente quando ele se aproximava, reagindo à sua presença. E, naquele instante, ele percebeu: aquilo era uma armadilha... ou um portal. Talvez os dois.

Antes que pudesse reagir, um estalo rompeu o silêncio.

Um dos mapas caiu da parede. E atrás dele, revelado pelo papel rasgado, havia um espelho preso ao concreto. Mas não era um espelho comum — era opaco, turvo, como se refletisse não o mundo real, mas um limiar entre realidades.

Ricardo se aproximou e, no reflexo, viu algo que o fez congelar.

Não era ele.

A figura refletida tinha seus traços... mas olhos vazios. A pele parecia desbotada, como papel velho. E ela sorria.

O reflexo estendeu a mão contra o espelho — e a superfície vibrou.

Ricardo recuou, o coração martelando. A sala tremia sutilmente agora, e os sussurros tornaram-se um zumbido ensurdecedor. A sensação de ser observado tornava-se insuportável. Havia algo ali, com ele. Algo que não podia ser explicado com lógica ou ciência.

A voz sussurrou mais alto. Um único nome. Novamente:

“Ricardo…”

Mas não vinha de dentro da cabeça dele. Vinha de trás.

Ele se virou devagar.

Nada.

A sala estava vazia.

A luz apagou.

E, pela primeira vez, ele ouviu a própria respiração em meio ao silêncio.

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