"Lisboa Afundada"
As águas subiram sem aviso, sem pressa, engolindo ruas e histórias como se fossem apenas areia na maré. O Tejo, outrora o coração pulsante da cidade, agora estende os seus braços frios sobre bairros que já não respiram. O Cais das Colunas desapareceu, os eléctricos descansam enferrujados sob ondas turvas, e as calçadas de pedra, desenhadas para durar séculos, afundam-se sob o peso do tempo e da negligência.
O Elevador de Santa Justa ergue-se como um monumento fantasma, metade submerso, metálico e esquecido. A Ponte 25 de Abril treme com o vento, os seus pilares fatigados pela corrosão e pelo silêncio. Os becos de Alfama, outrora cheios de fado e passos apressados, agora apenas ecoam com o som da água batendo contra paredes partidas.
As luzes de néon ainda piscam em algumas esquinas, relíquias de uma civilização que acreditou que poderia domar a cidade. Mas Lisboa nunca foi domada. Sempre pertenceu ao tempo, ao sal, ao destino. Agora, os únicos que restam são as gaivotas e os fantasmas de quem partiu tarde demais.
O passado afundou-se. O futuro nunca chegou. Apenas as ondas sabem o que ainda resta por vir.
Lisboa Afundada - Diogo “Zero” Martins
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