terça-feira, 6 de maio de 2025

Lisboa Afundada - Diogo “Zero” Martins

 


"Lisboa Afundada"

As águas subiram sem aviso, sem pressa, engolindo ruas e histórias como se fossem apenas areia na maré. O Tejo, outrora o coração pulsante da cidade, agora estende os seus braços frios sobre bairros que já não respiram. O Cais das Colunas desapareceu, os eléctricos descansam enferrujados sob ondas turvas, e as calçadas de pedra, desenhadas para durar séculos, afundam-se sob o peso do tempo e da negligência.

O Elevador de Santa Justa ergue-se como um monumento fantasma, metade submerso, metálico e esquecido. A Ponte 25 de Abril treme com o vento, os seus pilares fatigados pela corrosão e pelo silêncio. Os becos de Alfama, outrora cheios de fado e passos apressados, agora apenas ecoam com o som da água batendo contra paredes partidas.

As luzes de néon ainda piscam em algumas esquinas, relíquias de uma civilização que acreditou que poderia domar a cidade. Mas Lisboa nunca foi domada. Sempre pertenceu ao tempo, ao sal, ao destino. Agora, os únicos que restam são as gaivotas e os fantasmas de quem partiu tarde demais.

O passado afundou-se. O futuro nunca chegou. Apenas as ondas sabem o que ainda resta por vir.


Lisboa Afundada - Diogo “Zero” Martins




Sem comentários:

Enviar um comentário

Muros que Sussurram - Diogo zero Martins

Mensagem para “Muros que Sussurram” Há lugares onde o tempo não passa — apenas se transforma em poeira, em musgo, em fissuras silenciosas n...